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Estrutura do vírus ZIKA e complicações da infecção

Gênero, particularidades e modo de replicação do ZIKA e a relação entre o vírus, a Síndrome Congênita Cerebral e a Síndrome de Guillain-Barré


O vírus do zika é do gênero Flavivírus e, como os demais desse gênero, apresenta um RNA de fita simples e polaridade positiva. Isso significa que sua replicação ocorre no citoplasma da célula hospedeira, produzindo uma fita simples de RNA de polaridade negativa que servirá de molde para a síntese de novas fitas.

O RNA codifica proteínas não-estruturais e três proteínas estruturais, dentre as quais a que compõe o seu envelope glicoproteico. É este que, associando-se à membrana da célula hospedeira, inicia a endocitose característica do processo infeccioso.

Existem duas linhagens do Zika: a africana e a americana. Estudos indicam que o vírus que se dissemina nas Américas é 89% geneticamente semelhante aos genótipos africanos, estando, porém, mais associado à cepa asiática que circulara a Polinésia durante o surto de 2013 a 2014.


Em setembro de 2016, a Organização Mundial de Saúde publicou uma declaração confirmando a associação entre a síndrome congênita cerebral proveniente de gestantes infectadas por vírus Zika e a infecção como gatilho para a Síndrome de Guillain-Barré. A declaração foi decorrente de uma revisão sistemática e posterior consenso entre uma equipe multidisciplinar de especialistas no tema. No entanto, não é descartada a presença de cofatores, a exemplo de coinfecções, produtos tóxicos ou anormalidades genéticas.


Imunopatologia
 

Resposta Inata

A infecção se inicia com a inoculação do vírus na pele e circulação sanguínea. Fibroblastos dérmicos e queratinócitos epidérmicos são permissivos à infecção pelo vírus e, a partir dela, expressam receptores reconhecedores de patógenos – incluindo o receptor tipo Toll -, induzindo a expressão de IFN tipo I e quimiocinas inflamatórias – gerando a resposta característica da fase aguda da doença. Acredita-se que o interferon impede a replicação viral dentro dessas células. 


Células dendríticas também recebem o vírus, diferenciando-se em APC’s para uma resposta imune adaptativa. Monócitos, ao receberem o vírus, também engatilham citocinas pró-inflamatórias e quimiocinas. No entanto, diferente da dengue, não é observada a tempestade de citocinas que desencadearia no quadro hemorrágico. 



Resposta adaptativa

Células B e anticorpos específicos são essenciais para o controle da infecção disseminada, mas insuficientes para eliminá-la do hospedeiro. Ademais, a extensa reação cruzada entre esses anticorpos e flavivírus semelhantes (como DENV) torna o teste sorológico não confiável – além da reação com componentes dos nervos periféricos, desencadeando na doença autoimune Síndrome de Guillain-Barré. Contudo, as imunoglobulinas persistem por anos, e acredita-se que fornecem uma prolongada imunidade a outros flavivírus. O IFN produzido pelas células que inocularam o vírus induz uma resposta de células T-helper tipo 1 e T citotóxicas. Em indivíduos imunocompetentes, a infecção pelo vírus Zika mostra-se autolimitada e de morbidade amena, porém detectável.

 
Síndrome congênita cerebral
 
O período de incubação do vírus após a transmissão está entre 3 a 14 dias. A patogênese da infecção é pouco conhecida; no entanto, flavivírus de forma geral replicam inicialmente em células dendríticas próximas ao sítio de inoculação, disseminando para o sangue e linfonodos. Como resultado, a infecção é ampliada, resultando em viremia e disseminação hematogênica para tecidos periféricos e órgãos viscerais.
 
O vírus do Zika é neurotrópico, apresentando preferência por células neurais progenitoras – predominantes no período fetal - e, menos frequentemente, células neurais em diferentes estágios de maturidade. Estudos demonstram que a infecção pelo vírus induz a morte celular – por apoptose e autofagia - e desregulação da progressão do ciclo celular. Acredita-se que o vírus ganha acesso ao compartimento fetal ao infectar células placentárias, desencadeando em aborto espontâneo, restrição ao crescimento intrauterino ou lesões cerebrais.
 
Síndrome de Guillain-Barré

É incerta a patogênese por trás da inoculação do vírus zika que “engatilha” a Síndrome de Gullain-Barré. No entanto, acredita-se que a infecção invoca uma resposta imunológica, gerando anticorpos os quais realizam uma reação cruzada com componentes dos nervos periféricos por um processo de mimetismo molecular. Como resultado, ocorre uma polineuropatia aguda, caracterizada por uma fraqueza muscular progressiva e ascendente.
  
Referências

http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/

http://www.saude.ba.gov.br/novoportal/images/stories/PDF/Zika-virus-Atualizacao-sobre-a-doenca-11mai2015_0.pdf

http://viralzone.expasy.org/all_by_protein/6756.html

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3715965 

https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/html/10.1055/s-0036-1592071

http://bestpractice.bmj.com/best-practice/monograph/1302/basics/pathophysiology.html

https://www.uptodate.com/contents/guillain-barre-syndrome-pathogenesis

http://journals.plos.org/plospathogens/article?id=10.1371/journal.ppat.1006184