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Aedes aegypti e a sua relação social e ecológica

Com a urbanização acelerada nas últimas décadas, o mosquito conseguiu ascender de forma considerável e hoje é uma endemia alarmante, com surtos de epidemias em todo o Brasil


As arboviroses se enquadram dentro do grupo das doenças infecciosas e tem algumas características especiais que as separam das demais doenças humanas, como hipertensão e diabetes. Por terem uma profunda relação com o meio ambiente, suas peculiaridades envolvem a capacidade de causar grandes surtos, endemias e pandemias, além de apresentarem grande possibilidade de prevenção e erradicação, mas para isso são necessários diversos estudos sobre como esses vírus irão se distribuir na população humana, no território e nas espécies animais, sobre tudo, nos mosquitos. Para que esse conhecimento deve ser feito o uso da Epidemiologia, um ramo da medicina que se debruça em estudar justamente esses fatores fundamentais.
 

Nos últimos 10 anos, o surgimento de diversas arboviroses, especialmente a Chikungunya e Zika em diferentes países das Américas atraíram os holofotes das ciências biológicas. A chegada dessas doenças a esse continente se deve principalmente pela modificação de ecossistemas pela ação humana e seu avanço em áreas onde as doenças existiam apenas em seu ciclo silvestre, tendo como exemplo a Febre Amarela. 

Ademais, ressalta-se o aquecimento global como catalizador na transmissão dessas infecções ao ser humano, pois além de ter a mais óbvia relação com o regime pluvial, a elevação da temperatura irá afetar o metabolismo dos vetores.  


Dengue e urbanização 

Por mais de 60 anos, a dengue esteve erradicada do Brasil: não houve sequer um caso da doença entre 1923 e 1982. Contudo, já havia um prenuncio de que a doença retornaria. Nas últimas duas décadas do século passado, ouve um grande aumento na população de Aedes aegypti e também da espécie Aedes albopictus, que apresenta comportamento mais rural.  Esse ressurgimento está associado principalmente ao processo de urbanização descontrolado que o país sofreu. Graças ao inchaço das cidades, houve a falência dos sistemas de coleta de lixo e saneamento básico e o aumento dos potencias criadouros do mosquito, expondo o modo com que tal mosquito se relaciona com o meio ambiente e como fatores sociais determinam diretamente em sua ascensão.

Assim como vários insetos, o Aedes aegypti consegue criar um ciclo no qual a prole não compete com as formas adultas, uma vez que realiza a metamorfose completa. Dessa maneira, existem mutuamente na natureza os ovos do mosquito, as fases larvária e pupar e a forma adulta, de modo que o vetor propriamente dito seja capaz de se reproduzir e gerar novos descendentes seguramente


Cada etapa desse ciclo é fundamental para a manutenção da espécie. Uma vez que os ovos do mosquito são altamente resistentes à dessecação, capazes de sobreviverem por até 450 dias, podem eclodir em novos lugares, pela dispersão passiva, ao entrar em contato com um ambiente mais favorável, com água e temperatura adequadas. No estágio larvário, o fator determinante por outro lado é a quantidade de matéria orgânica, visto que em altas quantidades prejudica em seu desenvolvimento. É por esse motivo que as larvas do mosquito não se desenvolvem no esgoto, onde há matéria orgânica em abundância, diferentemente do mosquito Culex, pernilongo convencional, transmissor de doenças como a filariose e a febre Oropouche


As larvas além disso possuem um sifão na parte posterior do abdome que permite a elas respirar na superfície da água. Desse modo, podem ser facilmente percebidas a olho nu, embora muitas vezes, como são aversas à luz, encontram-se no fundo dos criadouros. Após 10 dias, quando passa do estágio pupar e finalmente chega à fase adulta, o macho, que se alimenta da seiva da planta, copula a fêmea, hematófoga e, por esse motivo, capaz de contrair o vírus da dengue em um indivíduo previamente infectado.

Com tempo de vida de 30 dias, a fêmea então desova na parede do criadouro próximo à superfície da água relativamente limpa e pode passar, por transmissão vertical, o vírus da dengue à sua prole.  


No ano de 2015, tivemos a última grande quantidade de casos de dengue. Entre os fatores que causaram esse quadro está o El Niño, um fenômeno meteorológico que causa a diminuição da pluviosidade no território brasileiro, o que levou a uma crise hídrica nas maiores metrópoles brasileiras e a reserva de água, o que aumentou o número de focos do mosquito. Além disso, nesse período há uma maior temperatura média durante o verão e essas maiores temperaturas são capazes de afetar o metabolismo da larva do mosquito, diminuindo o tempo necessário para a passagem para o estágio de pupa. 

Alguns fatores sociais influenciam amplamente neste ciclo do mosquito. Por ser um inseto que precisa do sangue homem para formar a sua prole, vive essencialmente em cidades. Com a urbanização acelerada nas últimas décadas, o mosquito conseguiu ascender de forma considerável e hoje é uma endemia alarmante, com surtos de epidemias em todo o Brasil.
Conforme o Instituto Oswaldo Cruz, o índice de infecção é inversamente proporcional ao nível de cobertura vegetal. Além disso, segundo o jornal Folha de São Paulo, 55% dos registros de dengue no país em 2015 eram do Estado de São Paulo, um dos mais urbanizados do país

Ademais, novos hábitos da população, como o uso excessivo de materiais não-biodegradáveis, por exmeplo o plástico e o vidro, formam criadouros constantemente quando espalhados pelo meio ambiente em épocas de chuva. 

Outro fator determinante é a infraestrutura irregular do fornecimento de água, o que leva à população a armazenar a água incorretamente em recipientes, sem vedá-los, por exemplo. Segundo o portal G1, em 2015, a epidemia de dengue em São Paulo com a crise hídrica triplicou o número de casos em relação ao primeiro balanço de 2014 e, em 2016, houve aumento de 16,5% em comparação com 2015

A falta da reciclagem e a  coleta de lixo precária, como no Norte e Centro Oeste, é o principal motivo por que nesses Estados há a presença do mosquito, uma vez que consegue crescer facilmente quando a água acumula sobre ele. Nesse sentido é fundamental que qualquer combate ao vetor deva ser atrelada às melhorias habitacionais e principalmente sociais

Os dados epidemiológicos dessa doença podem ser encontrados no site: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/situacao-epidemiologica-dados-dengue
 

Referências

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102016000100602&script=sci_arttext&tlng=pt


http://www.scielosp.org/pdf/csp/v17s0/3885.pdf


https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11019462