Zika vírus e as consequências sociais da microcefalia

Em 2016 foi descoberta a relação direta entre os casos de zika vírus em gestantes e a má formação congênita da microcefalia em seus fetos. Tal descoberta, além de todas as discussões científicas, suscitou também debates no campo da saúde pública e das ciências sociais. Já se sabe que a maioria das gestantes afetadas pela zika vírus que posteriormente tiveram filhos com microcefalia eram de uma condição socioeconômica extremamente vulnerável. 

Tal condição expõe, assim, uma maior necessidade dos órgãos públicos em agirem conjuntamente e fornecerem o melhor suporte e apoio nas diversas áreas que uma situação como a da microcefalia exige, sendo essas desde o fornecimento de bolsas de auxílio familiar, até melhoria dos serviços de educação, saúde e assistência social.

É fundamental entender que devido essas condições de vulnerabilidade socioeconômica dessas famílias o cuidado e atenção em saúde dos bebês afetados pela microcefalia podem ser gravemente afetados. Isso porque já sendo famílias em situações com dificuldade para subsistência alimentar e acesso à educação, saúde, moradia, lazer, etc, o quadro de microcefalia em um membro familiar dificulta ainda mais a condição de vida dessa população. Assim, toda uma rede de apoio se faz necessária para que os cuidados especiais para o desenvolvimento saudável do bebê sejam cumpridos e os limites impostos pela doença respeitados. 

Dessa forma, a microcefalia expõe a necessidade dos serviços de saúde conseguirem acompanhar adequadamente a saúde dos bebês, prestarem suporte psicológico às mães e familiares cuidadores da criança; do sistema educacional público ter a capacidade de acolher adequadamente essas crianças deficientes e terem a capacitação para prestarem o melhor ensino e aprendizado dentro das limitações individuais de cada caso; da assistência social acompanhar a situação socioeconômica familiar e ajudar para que as condições de vida sejam favoráveis ao bom desenvolvimento da criança. 

Ou seja, todos esses desafios são também os mesmos desafios que o Estado brasileiro enfrenta historicamente. A exigência de articulação entre os diversos setores e órgãos estatais coloca mais uma vez em cheque as condições dos serviços públicos e da própria democracia enquanto sistema de garantia de direitos para todos. 

O surto de microcefalia causado pelo zika vírus vem apenas contribuir para elucidar tal situação e desafiar ainda mais o Estado a responder rapidamente e de forma satisfatória a esse quadro, visto que a doença coloca essas populações, e, portanto, os bebês e crianças dessas famílias, ainda mais em condição de vulnerabilidade socioeconômica.