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Combate ao Aedes aegypti: uma visão para além da lógica “mata mosquito”


O Combate ao vetor Aedes aegypti é de extrema importância para o controle das arboviroses mais frequentes e de maior preocupação no Brasil: dengue, chikungunya e zika. Além dessas três, há ainda a ocorrência da forma silvestre da febre amarela em algumas localidades do país, e por isso preocupa as autoridades e profissionais da saúde o perigo da febre amarela voltar a ter seu ciclo urbano, sendo assim transmitida também pelo Aedes aegypti. Sendo assim, controlar e erradicar o mosquito é fundamental para que essas doenças sejam também erradicadas.

Ao longo da história do Brasil, muitas medidas já foram tomadas para a erradicação desse vetor. No início do século XX, o médico sanitarista Oswaldo Cruz, então Ministro da Saúde, determinou uma série de medidas a serem tomadas pelo governo e pelos cidadãos para que o surto urbano de febre amarela do Rio de Janeiro fosse cessado. Para isso, Oswaldo Cruz convocou as “brigadas mata-mosquito”, realizadas por agentes públicos que tinham o poder de entrar nas casas, limpar calhas, reformar ou demolir construções abandonadas, além da controversa obrigatoriedade da vacinação de toda a população.

No entanto, se tais medidas eram tomadas no início do século XX, como esperar que no século XXI, cem anos depois, em condição e realidade política tão diferentes, as mesmas ações possam surtir efeito? De fato, o que se nota é que as referidas medidas não alteraram estruturalmente e definitivamente as condições para procriação e reprodução do Aedes aegypti, e por isso, logo após alguns anos as epidemias continuam a voltar, completando um ciclo de aproximadamente 5 anos entre um surto de casos e outro.

Sendo assim, é extremamente importante pontuar que ainda que as medidas de “mata-mosquito” surtam efeito, esse efeito se revela relevante apenas enquanto medida emergencial e a curto prazo, sem alterar, porém, a necessidade de medidas a longo prazo e definitivas para a eliminação de criadouros do vetor. Dentro dessas ações estão a articulação de setores da educação, moradia, saneamento básico, resíduos sólidos e urbanismo. Ou seja: as arboviroses se apresentam como doenças de extrema complexidade para a sua resolução enquanto problema social.

Tal situação pode ser verificada a partir dos dados do Censo Demográfico de 2010 que apontam que: 13% de domicílios não tinham coleta de lixo; 17% não tinham abastecimento por uma rede geral de distribuição de água; 71,8% dos municípios não possuíam política de saneamento básico; 60,5% não tinha acompanhamento sobre licenças de esgotamento sanitário; 47,8% não possuía um órgão responsável pela fiscalização da qualidade da água. Esses dados revelam, portanto, que a falta de água adequadamente tratada e distribuída, e a falta de coletas apropriadas de lixo e resíduos sólidos, ainda são realidade de relevante parcela da população brasileira, gerando condições sociais que dificultam ainda mais o controle e combate ao mosquito.

Nessa situação revelada pelos dados, fica mais fácil entender o porquê que por mais agentes de vigilância uma cidade possa ter, ainda será insuficiente e não resolutiva as suas ações. Conjuntamente a esse trabalho, é necessário que à população sejam fornecidas condições de saneamento básico, distribuição adequada de água potável, recolhimento de lixo doméstico e das ruas, e educação e conscientização dos cidadãos.

Cabe ressaltar ainda que muitas das velhas medidas de combate ao vetor como a aplicação de inseticidas e larvicidas devem ser feitas com extremo cuidado e cautela, visto que o uso indiscriminado dessas substâncias pode acarretar graves consequências não só a saúde do ser humano, mas em todo o meio ambiente, podendo ter preocupantes impactos ambientais.

O debate sobre combate ao mosquito, portanto, deve se aprofundar e abordar essas questões fundamentais para a erradicação completa e definitiva do mosquito Aedes aegypti do Brasil. É preciso superar o foco e a realização predominante de medidas paliativas e superficiais que vêm sendo realizadas há mais de um século. O século XXI com toda a sua complexidade em termos não só populacionais, como também de aspectos sociais e políticos, pede uma nova tomada de atitude dos órgãos públicos e de toda a população: a efetuação de medidas que ponham fim definitivo e completo ao mosquito Aedes aegypti e às doenças causadas por ele.

Referências

http://www.scielo.br/pdf/ress/v25n1/2237-9622-ress-25-01-00007.pdf

Revista RADIS – Nº 161 – FEVEREIRO 2016: “Muito mais que um mosquito”.

https://oglobo.globo.com/sociedade/historia/oswaldo-cruz-homem-que-venceu-aedes-18226566