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A vacina da dengue é eficaz?


Apesar da promessa da vacina para a Dengue ser antiga, existem mais de uma vacina em potencial em desenvolvimento. A CYDTDV, mais conhecida como Dengvaxia, talvez seja a mais promissora. Ela é formulada a partir de quatro vírus quiméricos de febre amarela e dengue, onde a pré-membrana e as proteínas do envelope viral de cada sorotipo do vírus da dengue substituem as mesmas proteínas em um vírus vacinal de febre amarela (17D).

Ela já foi licenciada em alguns países da América Latina e sudeste asiático, por conta de dois grandes estudos clínicos randomizados de fase III, com resultados publicados entre 2014 e 2015. Um dos estudos foi conduzido em cinco países do sudeste asiático com crianças entre dois e catorze anos, o outro foi conduzido em cinco países da América latina e Caribe, envolvendo crianças entre nove e dezesseis anos. Os grupos etários foram escolhidos baseados no coeficiente de incidência e probabilidade de populações alvo de campanhas de vacinação.

Em ambos os estudos, a vacina foi administrada em três doses, de seis em seis meses. A eficácia apresentada variou entre 57 e 61% contra dengue virulogicamente confirmada entre 28 dias e 13 meses após a terceira dose da vacina, com níveis mais altos de eficácia contra casos de dengue hemorrágica e infecções demandando hospitalização (80 a 95%). Dengvaxia apresentou melhor eficácia contra os sorotipos 3 e 4 do vírus da dengue (aproximadamente 75%). A eficácia contra o sorotipo 1 foi de 50%, e contra o sorotipo 2, entre 35 a 42%. Crianças de dois a cinco anos e crianças que não apresentaram anticorpos neutralizadores de dengue antes da vacinação apresentaram a menor eficácia da vacina, entre 34 e 36%.

Em 2015, uma análise interina observou que a vacina estava associada a um risco elevado de infecções com necessidade de hospitalização em crianças menores de nove anos (em particular em crianças entre dois e três anos de idade) durante o terceiro ano do estudo, entre um e dois anos após a última dose. Este risco diminuiu nos anos seguintes. Já em 2016, um estudo da revista Science apontou que não ter sido infectado anteriormente pelo vírus seria o fator de maior importância para a segurança e eficácia da vacina, e não a idade. Dessa forma, seria mais indicada para evitar que pacientes adquirissem a segunda infecção (em geral, mais grave) do que para a imunização da população em geral. Esse tipo de uso indiscriminado em áreas de baixa prevalência poderia levar justamente ao aumento de hospitalizações devido à dengue secundária.

Em análise envolvendo 3736 participantes, 443 apresentaram infecção assintomática de dengue: 67 tiveram infecção assintomática virulogicamente confirmada e 376 tiveram infecção sorologicamente confirmada. A eficácia da Dengvaxia contra infecções assintomáticas foi de 38% entre receptores com idade superior a nove anos, e de apenas 9% entre crianças de dois a nove anos. 

Ainda é desconhecida a durabilidade do impacto da vacina e o nível de imunidade de grupo necessário para afetar a transmissão de dengue, mas é factível que a vacina traga benefícios à saúde pública. A Organização Mundial da Saúde recomendou que Dengvaxia seja introduzida apenas em regiões com soroprevalência do vírus da dengue igual ou maior que 70% na faixa etária selecionada para vacinação ou outros marcadores epidemiológicos válidos.

A Dengvaxtia foi aprovada pela ANVISA para uso no Brasil, dentro da faixa etária de 9 a 45 anos, no dia 28 de dezembro de 2015. Ela passa por um estudo clínico de fase III organizado pelo Institudo Butantan, e, simultaneamente, é comercializada em clínicas particulares. Em agosto de 2016 o governo do estado do Paraná lançou uma campanha de vacinação pública que a utliliza em 30 municípios considerados estratégicos. A segunda etapa (aplicando a segunda das três doses necessárias) aconteceu em março de 2017. A iniciativa foi criticada por conta da relativa baixa eficácia do medicamento e pelo estado não ter realizado uma pesquisa de soroprevalência. Logo, é provável que a vacina esteja sendo utilizada em desacordo com as recomendações da OMS e que seu uso possa causar efeitos adversos em quem nunca entrou em contato com o vírus.

O desenvolvimento de vacinas é fundamental para o controle epidemiológico de doenças-infectocontagiosas. Ainda restam dúvidas, no entanto, se as 3 doses de Dengvaxtia com seus riscos e eficácia mediana justificará toda a pesquisa e esperança nela investida.

Referências

Thomas, S. J., Rothman, A. L., Srikiatkhachorn, A., Kalayanarooj, S. Dengue virus infection: Prevention and treatment. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/dengue-virus-infection-prevention-and-treatment . Acesso em 10 de maio 2017.

http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/MANUAL_VACINA_DENGUE_FINAL.pdf

http://science.sciencemag.org/content/353/6303/1033

http://www.butantan.gov.br/butantan/dengue/Paginas/default.aspx

https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2016/09/22/vacinacao-contra-dengue-no-parana-nao-segue-recomendacao-da-oms.htm